RESUMO
Os estudos sobre a “religiosidade afro-brasileira”, tem consistido na compreensão da relação dos ritos e mitos afro-brasileiros com as potências cósmicas com as quais se relacionam. Os estudos sobre o sequestro e cativeiro de africanos, demostram a diversidade dos povos escravizados, e expõem a forma em que foram classificados, como por exemplo em grupos étnicos conhecidos por Yorubá, Bantu e Fon, categorias e classificações realizadas por não africanos com o pensamento eurocêntrico. Deslocados para diversas regiões do Brasil, estes povos africanos escravizados, perpetuaram formas envolvidas com a nova realidade física das regiões formando novos elementos em suas culturas sagradas. Essas culturas sempre repousaram suas essências na natureza e em todos os seus elementos. Ao apresentar a categoria afro religioso EjÈ EWE - sangue verde da matriz cosmogônica africana conhecida por Yorubá -, procuramos expor a forma como este elemento orgânico circula por diferentes contextos, sendo a ele atribuídos significados distintos, que vão além da utilização das ervas e plantas na elaboração de chás ou de banhos especiais, mas também como portador de Axé, que promove a manutenção da energia vital, individual e coletiva, incluindo aí os próprios Orixás. O antigo provérbio Yorubá “KOSI EWE, KOSI ORISA” (Sem folha não há orixá), tornou-se uma fala comum entre sacerdotes e praticantes, mas de pouco conhecimento fora dos espaços sagrados, elo indissociável na sacralização Yorubá, para a compreensão da relação homem/orixá/natureza. A expansão imobiliária e o fim de espaços verdes acabaram limitando e restringindo a coleta de materiais importantes, estabelecendo desta forma, uma crise na perpetuação dos espaços sagrados de interação com as plantas e as folhas, obrigando Babalorixás e Ialorixás a desenvolverem métodos diferentes dos preconizados em seus fundamentos e a estabelecerem novas relações sociais fora dos "ilê". Esse estudo que apresento, com base em um exercício descritivo auto etnográfico, visa desenvolver um estudo etnográfico, junto aos Babalorixás e Yalorixás da matriz religiosa africana Yorubá do Batuque do RS, na cidade de Pelotas, para entender os métodos e as relações estabelecidas com as ervas e seu processo de "coleita" em seus rituais, em conformidade com o ensinamento oral (Yorubá), preconizado pelos antigos sacerdotes.